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Alexandra Sanglard

Será mesmo que a prática leva à perfeição?




Um ponto de vista bastante difundido é o de que praticamente qualquer pessoa, com muitas horas treinamento, é capaz de se tornar um expert em qualquer coisa. Embora a questão seja ainda polêmica, essa ideia parece não mais se sustentar, de acordo com estudos científicos recentes.


A ideia de que o alto desempenho estaria muito mais relacionado ao treinamento intensivo do que ao talento ou às habilidades naturais é a base da Regra das 10.000 horas, desenvolvida pelo psicólogo americano Anders Ericson. Em um estudo com crianças e adolescentes que aprenderam a tocar violino, Ericsson concluiu que “muitas das características que acreditávamos refletir o talento natural são na verdade o resultado de uma prática intensa estendida por um mínimo de 10 anos”.


No livro Outliers (Fora de série), Malcolm Gladwell popularizou essa teoria, segundo a qual para alguém se tornar um atleta de alta performance, ou um superstar, não precisa ter talentos inatos, mas apenas praticar da maneira correta e intensamente (as tais 10.000 horas, ou o equivalente a três horas por dia de treinamento durante 10 anos).


A discussão sobre se os talentos são inatos ou desenvolvidos não é nova, remonta aos grandes filósofos da antiguidade - Aristóteles e Platão, que tinham visões contrárias sobre o tema.


Enquanto Platão acreditava que nossas habilidades e talentos eram predeterminados biologicamente, Aristóteles, seu discípulo, defendia firmemente a teoria de que o sucesso era obtido através da aprendizagem e do treinamento.   


A ideia de que é possível atingirmos a excelência apenas com a prática deliberada, ou seja, treinando regularmente e por muito tempo, pode soar extremamente sedutora. Afinal, significa dizer que praticamente qualquer pessoa seria capaz de se tornar um expert ou realizar qualquer coisa em um nível de excelência, desde que treinasse arduamente. Por outro lado, pode tornar-se cruel para outras pessoas, por não considerar os talentos individuais (ou a falta deles).


Um artigo recente publicado no jornal Intelligence, pelo psicólogo Zach Hambrick, mostra fortes evidências de que é preciso mais do que prática para se atingir excelência de performance. Segundo ele, o “trabalho duro” é sim condição para determinar quem vai atingir os mais altos níveis de desempenho, mas não explica nem “metade da história”. Na verdade, as pessoas necessitam de graus diferentes de treinamento, porque existem outros fatores envolvidos para determinar quem vai ter o melhor desempenho no final.


Os resultados indicam que, embora o treinamento seja extremamente importante, não é tudo. Fatores como predisposição genética, motivação, habilidade de lidar com a frustração, entre outros, contribuem decisivamente para a maximização da performance.

A prática não leva necessariamente à perfeição. Como argumentam Buckingham e Clifton, no excelente livro Descubra seus pontos fortes, a excelência é a combinação de talentos, conhecimento e técnicas. A partir de estudos com gerentes de alto desempenho, eles chegaram a duas conclusões importantes:


1) Os talentos de cada pessoa são permanentes e únicos.

2) O maior potencial de crescimento de cada pessoa está nas áreas onde ela tem seus pontos mais fortes.


Dessa forma, o segredo consiste em identificar seus pontos fortes para potencializá-los, transformando-os em verdadeiros talentos, em vez de perder energia tentando corrigir ou desenvolver seus pontos fracos.

Sem um talento subjacente, aprender novas técnicas e conhecimentos não vai lhe garantir um desempenho de excelência. Ao contrário, para desenvolver um genuíno ponto forte é preciso identificar seus talentos dominantes e depois refiná-los com conhecimento e técnicas.


O conselho para atingir maior realização e sucesso: descubra o que há de melhor em você, tire proveito disso e administre seus pontos fracos.


E você, já parou para pensar nos seus talentos naturais? O que você faz melhor do que as outras pessoas? Como pode tirar proveito disso? Aonde seus pontos fortes podem levar você?


Refletir sobre essas questões é o primeiro passo para potencializar os seus talentos e a sua performance e, acima de tudo, atingir maior realização pessoal e profissional.


Boas reflexões!

Alexandra Sanglard


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