Mais de um século depois da sua incorporação ao mercado de trabalho, a mulher vem conquistando cada vez mais espaço e representa hoje praticamente 50% da mão-de-obra ocupada no Brasil.
Essa evolução se deu ao longo do tempo, à custa de muitas lutas e reinvindicações por direitos e igualdade de condições com os homens, e hoje, apesar dos avanços, muitas disparidades ainda persistem.
Mesmo com queda na desigualdade salarial, as mulheres ainda ganham bem menos que os homens (47% abaixo para mesmos cargos – Agência Brasil) e a participação em posições de liderança ainda é muito inferior, principalmente nos níveis mais altos da hierarquia (apenas 13% dos presidentes de empresa – segundo Insper e Talenses).
Entretanto, diversos estudos apontam para o fato de que a inclusão das mulheres em posições de liderança contribui efetivamente para o crescimento das organizações.
Uma publicação divulgada pela McKinsey mostrou que companhias com mulheres no comando têm 50% mais probabilidade de aumentar os lucros, após analisar os resultados de 700 empresas de capital aberto na América Latina.
No Brasil, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), de 451 empresas entrevistadas, mais de 71% afirmam que as iniciativas de diversidade e equidade de gênero aumentaram seus resultados financeiros. Aproximadamente 30% destas empresas afirmam que o lucro cresceu entre 10% e 25%.
Além dos impactos positivos nos resultados financeiros, empresas que adotam políticas de equidade de gênero para as lideranças experimentam outros benefícios que favorecem a performance, como maior motivação e engajamento das equipes.
A consultora Betina Rama, autora do livro Liderazgo Femenino (Liderança Feminina), indica que em geral as mulheres na América Latina são especialistas no gerenciamento de crises e na adaptação a mudanças. Como as organizações tendem a adotar estruturas cada vez mais enxutas e interdependentes, habilidades de gerenciar mudanças e lidar com incertezas e ambiguidades se tornam fundamentais para o sucesso.
Para se adaptar a mudanças constantes e cada vez mais rápidas, as empresas buscam características como colaboração, empatia, sensibilidade e consenso, que estão mais relacionadas à liderança feminina.
Segundo Rama, as mulheres em geral tendem a participar mais na busca de melhores soluções junto com o time. Algumas das características que em geral representam uma liderança feminina são:
Orientação para Pessoas: são mais sociáveis, expressivas e criam vínculos mais fortes, aumentando a possibilidade de estabelecer compromissos, seja com os objetivos da empresa ou com um projeto específico.
Tendência a cooperar: torna o trabalho de equipe mais natural através da inclusão e acolhimento das pessoas. Maior predisposição a seguir normas e procedimentos de forma consistente.
Habilidade de atuar em múltiplas direções: possuem a capacidade de pensar e atuar ao mesmo tempo em diferentes direções, o que representa uma grande vantagem ao enfrentar crises e tomar decisões.
Liderança participativa: a liderança feminina é inclusiva, incentiva a participação e compartilha informação e poder com a equipe. Tende a criar e fortalecer as identidades do grupo.
Ênfase Emocional: geralmente são capazes de considerar o lado “humano” das pessoas e cultivar relacionamentos interpessoais com alto grau de empatia.
Maior predisposição à mudança: tem um estilo mais aberto à inovação, flexibilidade, comunicação e persuasão.
Isso não significa que o estilo de gestão caracterizado como feminino seja exclusivo das mulheres e nem que todas as mulheres o adotem. Ao contrário, vemos muitos casos de mulheres que, na busca de afirmação ou para competirem em igualdade de condições, acabam copiando o estilo mais autoritário e assertivo, historicamente associado ao universo masculino.
O fato é que em geral homens e mulheres possuem habilidades e características distintas, porém complementares. Quanto mais diverso e equilibrado for um time, maior o compartilhamento de diferentes visões, contribuindo para a inovação e a melhoria da performance.
Por que, então, a presença feminina na liderança das empresas é ainda tão tímida?
O estudo Mulheres e o Mundo Corporativo, da consultoria Robert Half, que faz um levantamento sobre como as mulheres se percebem no ambiente corporativo, dá algumas pistas. 87% das profissionais pesquisadas afirmam que suas companhias não têm programa de desenvolvimento de liderança para mulheres e 83% acreditam que as empresas não preparam os homens para lidarem com as mulheres no ambiente de trabalho.
Como o modelo dominante foi criado e é protagonizado pelos homens, existe uma barreira invisível, muito difícil de ser superada. Preconceitos de gênero e de idade, comentários discriminatórios, questionamento das suas competências e desconfiança são alguns dos desafios que muitas mulheres precisam vencer diariamente para serem respeitadas e ascender profissionalmente.
No nível individual, muitas mulheres perdem a autoconfiança, passam a duvidar das suas habilidades e competências e acabam buscando se adequar, submetendo-se às oportunidades existentes ou vivendo à sombra de seus líderes. Outras tentam se impor desenvolvendo comportamentos ditos masculinos para competir de acordo com os padrões estabelecidos.
A equidade de gênero tem se tornado um tema prioritário na agenda de muitas empresas, que vêm adotando políticas claras e ações planejadas nesse sentido. Entre essas práticas destacam-se: metas para atingimento de cotas, treinamentos de conscientização e para desenvolvimento de liderança, licenças maternidade e paternidade estendidas, home office e horários flexíveis para pais e mães que retornam ao trabalho.
Sou otimista e acredito que estamos caminhando no sentido de uma conscientização de que não somos todos iguais (e isso é muito bom!), mas podemos contribuir igualmente para a melhoria do mundo e de suas instituições.
Como disse a bem-sucedida empresária norteamericana Sheryl Sandberg, escritora e executiva do Facebook: “No futuro não haverá líderes femininas, haverá apenas líderes.”
Alexandra Sanglard
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